As horas não passam. Ouço apenas o som de um pássaro lá fora. Acho que é um rouxinol, mas pode ser uma cotovia também. É, acho que é uma cotovia. O quê isso tem a ver com a história? Bem, tudo começou numa manhã de domingo...
Eu estava brincando do lado de fora da casa dos meus pais. Moro com meus avós em outra cidade, vim passar o feriado aqui. Meus pais moram à beira de um lago, mas não tem condições de me criar. Trabalham muito. Acharam que seria melhor morar com meus avós. Eu sei que é só por um período curto de tempo (espero). Adoro correr, pular, brincar aqui. Tem muito espaço. Não querem que eu vá muito longe, posso me perder na floresta. Tenho que ficar aqui, pertinho.
Ouvi um barulho estranho, não identifiquei o que era. Aquilo era realmente esquisito. Congelou até a minha alma. Fiquei paralisado de medo. Não conseguia dar um passo. Apenas fiquei lá, olhando na provável direção daquilo. Se fosse um animal, ele deveria estar com medo. Que coisa esquisita. Foram longos segundos assim. Segundos que pareciam minutos, minutos que pareciam horas. Quando minhas pernas obedeceram, corri. Corri o mais rápido que pude. Entrei em casa, tropecei e dei de cara com o chão, bem no meio da sala. Minha mãe veio correndo querendo saber o que estava acontecendo. Eu estava bastante assustado. Ela disse que não foi nada, que não era para temer nada. Eu estava com eles e iriam me proteger. Pedi que não me deixasse sozinho. Ela foi até a cozinha pegar gelo para botar no meu galo que se formou na queda. Fui junto, não quero ficar ali só.
Depois de mais ou menos uma hora, consegui tirar aquilo da cabeça. O barulho, não o galo. Ele ainda teimava em cantar. Papai entrou, perguntou o que tinha acontecido. Lá vou eu lembrar tudo aquilo. Eles se entreolharam e pediram para que ficasse calmo, que nada iria acontecer ali. Percebi um certo ar de mistério. Tenho doze anos, ora. Sempre leio histórias de monstros e outras coisas do tipo. Sei que existem mistérios que nunca foram solucionados. Dizem que eu pareço mais velho, sempre sério, lendo.
Almocei bastante. Adorava a comida da mamãe. Era uma excelente cozinheira. De barriga cheia, fui me esticar numa rede armada na varanda, de frente para o lago. Estava um dia muito lindo, o sol brilhando, poucas nuvens no céu. Papai ficou de me levar para pescar mais tarde. Espero que se lembre disso, costuma esquecer promessas. Que sono bateu. Sinto meu corpo perder as forças, estou sendo levado para a terra dos sonhos. Ouço apenas o barulho de algumas aves ao longe. Sinto sono, muito sono.
Grito. Novamente o grito. Acordo assustado. Caí da rede. Assustado, olho para o lago. Ele está vermelho. Parece que alguém jogou tinta nele. As árvores... As árvores da floresta... Todas, absolutamente todas estão mortas. Meus olhos arregalaram. O sol brilha com um tom de rosa, algo do tipo. Olho em direção à minha casa... Ela está totalmente destruída. Corro e grito pelos meus pais. Lágrimas caem do meu rosto. Choro muito chamando por eles. Nada. Nenhuma resposta. Sento ali mesmo e choro mais ainda. Tenho que me controlar. Tenho que fazer algo. Não consigo pensar. Está tudo tão... Sinistro. Medo. Tenho muito medo. Onde estão meus pais?
Ouço novamente um grito, agora diferente. Parece ser... Sim, é a mamãe. Corri em direção ao som, chamando pelo seu nome. Nem enxergo direito o que está na minha frente, as lágrimas não deixam. Tenho que ser forte, tenho que encontrar a minha mãe. Ela esta gritando. Tropecei em algo. Um galho. Vou usar como um bastão. Se mexerem com a minha mãe, estão ferrados. Estou entrando na floresta destruída. O som veio daqui, acho. Vou entrando e chamando por ela.
Novamente o mesmo grito. Mais para o lado. Corro. Tem uma cabana pequena ali. Assim como a minha casa, ela está toda destruída. Vejo que tem umas caixas que deveriam ser de colmeias de abelhas, vi na TV outro dia. Todas destruídas, como a cabana. Cheguei à porta. Vejo que ali fabrica mel mesmo. Têm vários potes espalhados por prateleiras, alguns quebrados no chão, outros jogados. Chamo pela minha mãe. Nada. Nenhuma resposta. Mais lágrimas. Não. Não posso chorar. Engoli o choro e entrei. Olho para o chão, algo brilhante chama a minha atenção. Era um broche. Sim. O mesmo broche que minha mãe gostava tanto. Era dela. Só podia ser.
Outro grito, agora do lado de fora. Não identifico de quem seja. Minhas pernas bambeiam, mas eu tenho que seguir. Não vou dormir por três meses depois disso... Sigo em direção ao barulho. Parece ser uma voz de homem, mas não é meu pai. Não identifico quem seja, mas vou seguir. As lágrimas teimam ainda em cair.
Achei no meio da trilha um jornal. Tem a data de hoje. Era o mesmo jornal que papai estava nas mãos após o almoço. Poderia estar no caminho certo. Chamo pelo seu nome. Nada. Nenhuma resposta. Novamente o mesmo grito. Ali. Vem dali. Corro o mais rápido que eu posso. Vejo ao longe uma clareira na mata. Parece ser uma madeireira. Vejo uma carreta lotada de toras de madeira. Não tem ninguém aqui. Olho por todos os lados. Nada. Ninguém.
O desespero começa a bater. Estou cansado de andar. Cansado de correr. Cansado... Sono. Meus olhos estão pesados. Não consigo manter os olhos abertos. Não quero ficar ali, não. Não posso. Não consigo. Estou sendo vencido pelo sono. Meus olhos, minhas pálpebras pesam. Cai ali mesmo, no chão. Não sinto nada, não ouço nada.
Acordo assustado, gritando. Era minha mãe me chamando. Dormi na rede a tarde toda. Estou todo suado. Abraço forte minha mãe e começo a chorar. Ela pergunta o que aconteceu. Eu contei do sonho. Ela fala que não tem com o que eu me preocupar, que está tudo bem. Sinto-me bem ali, abraçado com ela. É a minha mãe. Leva-me para dentro. Papai está lendo jornal na poltrona. Como é bom estar em casa. Ela vai para a cozinha me preparar um lanche. Papai foi tomar um banho. Está quente mesmo o dia.
Lá vem a mamãe com leite e biscoitos. Ela passa a mão na minha cabeça e volta para a cozinha. Quando vou dar o primeiro gole no meu leite, ouço um grito. Mamãe gritando. Um grito de pavor, terror. Corro até a cozinha. Nada. Nem um sinal da mamãe. Vou correndo para o banheiro chamar pelo papai. Nada. Nenhum sinal dele. Corro até meu quarto e me escondo no guarda-roupa. Ouço ao longe um pássaro. Acho que é um rouxinol, mas pode ser uma cotovia também. É, acho que é uma cotovia...
Eu estava brincando do lado de fora da casa dos meus pais. Moro com meus avós em outra cidade, vim passar o feriado aqui. Meus pais moram à beira de um lago, mas não tem condições de me criar. Trabalham muito. Acharam que seria melhor morar com meus avós. Eu sei que é só por um período curto de tempo (espero). Adoro correr, pular, brincar aqui. Tem muito espaço. Não querem que eu vá muito longe, posso me perder na floresta. Tenho que ficar aqui, pertinho.
Ouvi um barulho estranho, não identifiquei o que era. Aquilo era realmente esquisito. Congelou até a minha alma. Fiquei paralisado de medo. Não conseguia dar um passo. Apenas fiquei lá, olhando na provável direção daquilo. Se fosse um animal, ele deveria estar com medo. Que coisa esquisita. Foram longos segundos assim. Segundos que pareciam minutos, minutos que pareciam horas. Quando minhas pernas obedeceram, corri. Corri o mais rápido que pude. Entrei em casa, tropecei e dei de cara com o chão, bem no meio da sala. Minha mãe veio correndo querendo saber o que estava acontecendo. Eu estava bastante assustado. Ela disse que não foi nada, que não era para temer nada. Eu estava com eles e iriam me proteger. Pedi que não me deixasse sozinho. Ela foi até a cozinha pegar gelo para botar no meu galo que se formou na queda. Fui junto, não quero ficar ali só.
Depois de mais ou menos uma hora, consegui tirar aquilo da cabeça. O barulho, não o galo. Ele ainda teimava em cantar. Papai entrou, perguntou o que tinha acontecido. Lá vou eu lembrar tudo aquilo. Eles se entreolharam e pediram para que ficasse calmo, que nada iria acontecer ali. Percebi um certo ar de mistério. Tenho doze anos, ora. Sempre leio histórias de monstros e outras coisas do tipo. Sei que existem mistérios que nunca foram solucionados. Dizem que eu pareço mais velho, sempre sério, lendo.
Almocei bastante. Adorava a comida da mamãe. Era uma excelente cozinheira. De barriga cheia, fui me esticar numa rede armada na varanda, de frente para o lago. Estava um dia muito lindo, o sol brilhando, poucas nuvens no céu. Papai ficou de me levar para pescar mais tarde. Espero que se lembre disso, costuma esquecer promessas. Que sono bateu. Sinto meu corpo perder as forças, estou sendo levado para a terra dos sonhos. Ouço apenas o barulho de algumas aves ao longe. Sinto sono, muito sono.
Grito. Novamente o grito. Acordo assustado. Caí da rede. Assustado, olho para o lago. Ele está vermelho. Parece que alguém jogou tinta nele. As árvores... As árvores da floresta... Todas, absolutamente todas estão mortas. Meus olhos arregalaram. O sol brilha com um tom de rosa, algo do tipo. Olho em direção à minha casa... Ela está totalmente destruída. Corro e grito pelos meus pais. Lágrimas caem do meu rosto. Choro muito chamando por eles. Nada. Nenhuma resposta. Sento ali mesmo e choro mais ainda. Tenho que me controlar. Tenho que fazer algo. Não consigo pensar. Está tudo tão... Sinistro. Medo. Tenho muito medo. Onde estão meus pais?
Ouço novamente um grito, agora diferente. Parece ser... Sim, é a mamãe. Corri em direção ao som, chamando pelo seu nome. Nem enxergo direito o que está na minha frente, as lágrimas não deixam. Tenho que ser forte, tenho que encontrar a minha mãe. Ela esta gritando. Tropecei em algo. Um galho. Vou usar como um bastão. Se mexerem com a minha mãe, estão ferrados. Estou entrando na floresta destruída. O som veio daqui, acho. Vou entrando e chamando por ela.
Novamente o mesmo grito. Mais para o lado. Corro. Tem uma cabana pequena ali. Assim como a minha casa, ela está toda destruída. Vejo que tem umas caixas que deveriam ser de colmeias de abelhas, vi na TV outro dia. Todas destruídas, como a cabana. Cheguei à porta. Vejo que ali fabrica mel mesmo. Têm vários potes espalhados por prateleiras, alguns quebrados no chão, outros jogados. Chamo pela minha mãe. Nada. Nenhuma resposta. Mais lágrimas. Não. Não posso chorar. Engoli o choro e entrei. Olho para o chão, algo brilhante chama a minha atenção. Era um broche. Sim. O mesmo broche que minha mãe gostava tanto. Era dela. Só podia ser.
Outro grito, agora do lado de fora. Não identifico de quem seja. Minhas pernas bambeiam, mas eu tenho que seguir. Não vou dormir por três meses depois disso... Sigo em direção ao barulho. Parece ser uma voz de homem, mas não é meu pai. Não identifico quem seja, mas vou seguir. As lágrimas teimam ainda em cair.
Achei no meio da trilha um jornal. Tem a data de hoje. Era o mesmo jornal que papai estava nas mãos após o almoço. Poderia estar no caminho certo. Chamo pelo seu nome. Nada. Nenhuma resposta. Novamente o mesmo grito. Ali. Vem dali. Corro o mais rápido que eu posso. Vejo ao longe uma clareira na mata. Parece ser uma madeireira. Vejo uma carreta lotada de toras de madeira. Não tem ninguém aqui. Olho por todos os lados. Nada. Ninguém.
O desespero começa a bater. Estou cansado de andar. Cansado de correr. Cansado... Sono. Meus olhos estão pesados. Não consigo manter os olhos abertos. Não quero ficar ali, não. Não posso. Não consigo. Estou sendo vencido pelo sono. Meus olhos, minhas pálpebras pesam. Cai ali mesmo, no chão. Não sinto nada, não ouço nada.
Acordo assustado, gritando. Era minha mãe me chamando. Dormi na rede a tarde toda. Estou todo suado. Abraço forte minha mãe e começo a chorar. Ela pergunta o que aconteceu. Eu contei do sonho. Ela fala que não tem com o que eu me preocupar, que está tudo bem. Sinto-me bem ali, abraçado com ela. É a minha mãe. Leva-me para dentro. Papai está lendo jornal na poltrona. Como é bom estar em casa. Ela vai para a cozinha me preparar um lanche. Papai foi tomar um banho. Está quente mesmo o dia.
Lá vem a mamãe com leite e biscoitos. Ela passa a mão na minha cabeça e volta para a cozinha. Quando vou dar o primeiro gole no meu leite, ouço um grito. Mamãe gritando. Um grito de pavor, terror. Corro até a cozinha. Nada. Nem um sinal da mamãe. Vou correndo para o banheiro chamar pelo papai. Nada. Nenhum sinal dele. Corro até meu quarto e me escondo no guarda-roupa. Ouço ao longe um pássaro. Acho que é um rouxinol, mas pode ser uma cotovia também. É, acho que é uma cotovia...
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