domingo, 16 de janeiro de 2011

A Lenda Gordon


Ao entrar na delegacia, ele se depara com o seu parceiro. Não o cumprimenta, o que será que rolou? Entra em sua sala e, de repente, o delegado o chama, houve um crime e necessita dele neste caso, era algo grande!

Gordon era o mais famoso de todos, aquele que chamavam quando a coisa apertava. Não havia crime sem solução, apenas mal investigado. Sabia que sua experiência lhe proporcionava essas coisas, afinal, 30 anos de polícia, 28 como detetive, não era pra qualquer um. Já teve que trocar bala com bandido, acabar com o tráfico de drogas na cidade, solucionar sequestros. Sua fama o precede.

Wilson era jovem, estava como detetive há apenas 3 anos. O delegado achou por bem o colocar junto da “Lenda Gordon”, para ganhar experiência. Gordon, a princípio, não gostou muito da ideia, mas a acatou. Era uma pessoa simples e humilde, nunca quis ser delegado ou algo superior, detetive era bom para ele.

- Desculpa não ter falado contigo mais cedo... - fala Gordon - ...estava com a cabeça cheia! Aquilo aconteceu novamente!
- Tudo bem! - tranquiliza Wilson - Sei que não o fez de propósito. Entendo. Essas coisas mexem com a nossa cabeça mesmo.
- Vamos? Temos que sair agora. Vamos colher pistas, outro assassinato naquelas mesmas circunstâncias ocorreu. O delegado nos quer neste caso.
- Estou logo atrás de você!

Foram no próprio carro de Gordon, fazia questão de sempre usar o seu velho possante. Velho em tempo de uso, mas, em termos de conservação, era novíssimo! Era um dos seus hobbies, cuidar do carro. Não era casado, não tinha filhos, tinha que se apegar a alguma coisa. Wilson percebia essa carência em seu parceiro e, sempre que podia, o levava para jantar com sua esposa e filhinha de 2 anos e meio.

Um beco. Uma prostituta decapitada e sem coração. Novamente, a mesma coisa aconteceu. E sem deixar nenhuma pista aparente. Era coisa de profissional. Os cortes aparentavam certa técnica, o assassino parece conhecer bem o que estava fazendo. Seria ele um açougueiro? Foi a primeira linha de investigação usada no primeiro caso, mas nada foi descoberto. Um médico louco? Poderia ser, mas ainda conclusivo.

Gordon, acostumado já com tudo o que se vê nas ruas durante esses anos, tratava aquela cena como mais um fato rotineiro. Wilson, por sua vez, expressava uma cara de nojo e repulsa, um misto de nojo com ânsia de vômito. Não era todo dia que se deparava com aquilo, sabia que a sua profissão proporciona cenas como esta, mas não estava se sentindo bem. Sempre pensava em sua família, em sua esposa e filha. E se fossem elas?

- Pensando em quê, Wilson? Preste atenção na cena e procure pistas! - reclama Gordon.
- Desculpe-me, Gordon. Não acontecerá novamente.

O olho clínico de Gordon procurava pistas enquanto o estômago revirado de Wilson procurava uma saída do que havia em seu interior. O enjoado saiu, foi para trás de uma lata de lixo que havia no final do quarteirão e foi lembrado do que havia comido no café da manhã.

Enquanto se recomponha, reparou que havia um brilho bem no cantinho da lata de lixo. Chegando mais perto, notou que era o brilho de um bisturi. Parecia uma pista! Gritou chamando Gordon, que veio logo em seguida.

- Cereal com leite? Você não come nada que preste de manhã?
- Não é isso! Veja aqui!

Wilson aponta para o bisturi. Gordon o recolhe e bota em um saco de provas, guardando logo em seguida em seu casaco.

- Bom trabalho, Wilson! Vamos analisar isso e teremos nossa primeira pista!
- Obrigado, Gordon. Seus agradecimentos são muito importantes para mim!

Nada mais encontraram. Seguiram para a delegacia. Wilson pede a Gordon a prova, o bisturi para levar pessoalmente ao laboratório que fica no porão da delegacia. Leva assim que chega.

Não tem impressões digitais e o sangue é apenas o da vítima. Conclusão já esperada pelos detetives. Esse cara é bom! Teria deixado de propósito essa pista? Com que intuito?

Enquanto saiam, o técnico do laboratório aparece, gritando.

- Parem! Parem! Vocês tem que ver isso!

Mostra o resultado do exame de sangue. O DNA no bisturi é o mesmo da vítima, porém de apenas um dos tipos de sangue encontrados!

- Sim, parece que o assassino foi descuidado, ele deve ter se cortado. Passou despercebido da primeira vez, mas a contraprova mostrou que existem dois tipos distintos de sangue. Um é o da vítima. O outro... Bom, vejam vocês mesmo.

O resultado dos exames foi claro. Dois tipos de sangue. Um era o da vítima, o outro desconhecido. Porém, checando a base de dados, descobriram que tinha uma grande percentagem de DNA do Gordon! Como seria isso possível?

Espantados, eles se entreolham. Iriam manter aquilo em segredo. Sabiam que Gordon não tinha nada haver com o ocorrido, afinal passara a noite inteira junto com Wilson e Aparício, técnico do laboratório, jogando poker. Bom, o Gordon deu uma saída para passar em casa e lavar o rosto antes de vir trabalhar, havia perdido muita grana e estava um pouco chateado, mas nem o Jack, o Estripador, teria feito aquilo tudo em tão pouco tempo!

Ideias iam e vinham em um turbilhão na cabeça de todos. O que poderia ser aquilo? Muito estranho... Era o quarto caso parecido, mas só agora uma pista. Teria sido proposital o seu aparecimento? Cada um, em sua escrivaninha, estava pensando em possibilidades. Um telefonema misterioso recebido por Gordon o fez levantar correndo e quase escorregar. Wilson o seguiu.

Entraram no carro e saíram correndo. Gordon, sem dizer nada, por mais que Wilson perguntasse. Estava apavorado. Era raro ver isso, uma pessoa experiente assim. Um temor se apodera do jovem detetive, o que estaria acontecendo com o seu parceiro?

Chegaram à casa de Gordon. A porta estava entreaberta. De armas em mãos, entraram. Ouviram passos vindos do porão. Cuidadosamente foram se aproximaram. Uma cena horrenda foi o que encontraram: as cabeças das prostitutas mortas estavam lá, em cima de uma mesa! Os seus corações estavam dentro da boca, como se estivessem sendo mordidos. Os olhos haviam sido arrancados. Uma figura, ao fundo, foi o que encontraram.

- Mãos na cabeça! Anda! Vamos!
- Calma, muita calma nessa hora! - fala a pessoa, caminhando para perto dos policiais, saindo da penumbra.
- Parado! Último aviso!

Quatro tiros, dois de cada policial. A pessoa que estava na frente deles cai. Ainda fala um pouco.

- Sou eu... Papai...

Um espanto toma conta de todos! Sim! A pessoa caída era a cara de Gordon, quando mais jovem! Como seria possível?

- Minha mãe era... Era... Era uma prostituta! Você há engravidou alguns anos atrás... Ela te procurou, mas você a esnobou... Eu vim aqui, deixei pista para que me encontrasse... Cof, cof.
- O que foi que eu fiz? Por que não nos obedeceu? Por que não ficou parado? - Gordon parecia assustado e indignado.
- Eu só... Eu só queria que você me reconhecesse... Eu fiz o que fiz para que me prendesse, era a única maneira de chamar a sua atenção... Eu...
- Não, não fale mais! Uma ambulância! Wilson! Chame uma ambulância!

Wilson sai, havia esquecido o celular e foi usar o telefone da casa para chamar uma viatura!

- Papai... Perdoa-me... Eu só queria... Só queria a sua atenção! - fala o pobre rapaz, enquanto seus olhos fecham, lentamente.
- Filho! Por que não me procurou? Por que sua mãe não falou de você para mim? Minha vida teria sido tão diferente... Minha vida...

Um tiro. Mais um tiro é ouvido. Wilson volta assustado. Encontra pedaços de cérebro espalhados por todos os lados. Gordon havia se matado com um tiro de espingarda que guardava no porão! Teria sido demais o sentimento? Um pai matar o próprio filho... Logo o Gordon, sempre tão correto, anos e anos de trabalho e serviço à comunidade...

Esse foi o fim trágico da “Lenda Gordon”, o policial mais esforçado de todos os tempos. É uma história contada para todos os novatos. Wilson faz questão de exaltar tudo de bom que o seu eterno parceiro fez. Uma lenda. Um mito.

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